Por Cleber Fabiano da Silva e Silvio Leandro da Silva

A leitura de Gueledés: a festa das máscaras, do carioca Raul Lody, faz com que uma pergunta paire no ar: o que fazem as baianas do acarajé quando desmontam suas barracas? A narrativa trata de forma dinâmica de um dos muitos aspectos culturais do povo Yorubá, localizado na região da África Ocidental. São características milenares que perpassaram tempo e espaço atingindo outros agrupamentos que carregam traços afrodescendentes.
O enredo retira a figura feminina do status de submissão – recorrente na maioria das abordagens sobre tribos africanas - e a potencializa corroborando com estudos recentes sobre etnias daquele continente. As Gueledés são manifestações referentes a percepções masculinas sobre os mistérios e magias que rondam as mulheres denominadas Senhoras da Noite (mulheres comerciantes que após o expediente se reuniam para celebrações e transfigurações antropozoomórficas). Eles se fantasiam na expectativa de distrair com festas essas personagens para que as noites fiquem livres de qualquer percalço.
As quitandeiras Yorubás revelam-se verdadeiras fontes de energia econômica e cultural para sua localidade que reverencia seus fazeres, convivendo de forma harmoniosa. Há uma noção de coletividade e pertencimento.  Panos, máscaras e adornos constituem os membros dessa comunidade que tem na cultura material a extensão dos valores preservados pela oralidade.
Enriquecedora, a obra de Lody nos permite uma fruição pelos meandros dessa cultura ancestral tão latente no ritualístico cotidiano brasileiro. Uma leitura encantadora que ressignifica o mito de mulheres que deixaram seu legado nas atividades de gerações descendentes.

FICHA TÉCNICA:

Obra: As Gueledés: a festa das máscaras
Autor e ilustrador: Raul Lody
Editora: Pallas
Ano: 2010
   Na manhã do dia 12 de novembro (sábado), aconteceu o último lançamento do "Livro dos livros" deste ano, na Biblioteca Pública Municipal Rolf Colin. Confira as fotos das contações de histórias dos prolijianos Alcione Pauli, Sueli Cagneti, Silvio Leandro da Silva e Viviane de Cassia Romão.
 
     Na tarde do dia 16 de novembro, no Espaço da Midas Armazém Cultural, realizou-se o II Seminário Jardim Poético da Educação, voltado para os profissionais das escolas rurais de Joinville, mas aberto à comunidade, assim contando com outros docentes e profissionais de leitura.
     A prolijiana Alcione Pauli, na posição de coordenadora da Biblioteca Municipal Rolf Colin, abriu a conversa, em seguida a coordenadora do PROLIJ, Sueli Cagneti, encantou a todos com o livro "Todo livro que tem" de Fa Fiuza. A mesa redonda teve início com a fala do escritor Jura Arruda, seguido pela escritora Roseana Murray e terminou com a apresentação da diretora Denise Kricheldors da E. M. Eugênio Klug, mediados pela professora Sueli Cagneti. Houve ainda a mesa de autográfos com Roseana Murray e seu livro "Poemas para ler na escola".


 

Por Sueli de Souza Cagneti

Contemplar estrelas é sonhar histórias, é recuperar perdas, é amansar medos, é adormecer gigantes.
E é esse basicamente o enredo poético de Mil e Uma Estrelas de Marilda Castanha, cuja protagonista é uma menina negra que – ao se deparar com o céu sem estrelas – vai em busca do ogro gigante, considerado por ela, o único que poderia chegar até à lua e recuperar o brilho do firmamento. Não sabia ela que, por medo do escuro, era ele o ladrão das estrelas.
Dialogando poeticamente com o verbal e o visual, Marilda coloca a heroína em meio a uma paisagem afro, num misto de Golias e Sherazade para – modernamente – nem derrotar, nem se salvar do antagonista, mas acalentando-o através de histórias, salvá-lo do medo do escuro, levando-o a devolver as estrelas ao firmamento. Firmamento esse, cuja contemplação remete a uma das figuras mais fortes da crença afro em seus orixás: o Oxalá.
Oxalá outros livros como esse cheguem as nossas crianças.

FICHA TÉCNICA:

Obra: Mil e Uma Estrelas
Autora: Marilda Castanha
Editora: SM
Ano: 2011

Por Sonia Regina Reis Pegoretti

Laurence Quentin se aventura entre o informativo e literário com o livro “Ao sul da África”. O autor propõe conhecer três povos diferentes que vivem no sul da África: os ndebeles da África do Sul; os xonas do Zimbábue e os bosquímanos do Botsuana.
Cada capítulo apresentado mostra uma variedade de informações sobre a história, costumes e crenças desses povos e ainda uma narrativa que envolve a comunidade dessa cultura. Como proposta pedagógica para desenvolver com os pequenos, há uma sessão de artes para construir adereços típicos e fantasias, jogos ou ainda dicas da culinária, possibilitando a expansão da temática para outras áreas do conhecimento. Finalizando o capítulo, uma sessão de fotos retrata o dia a dia da comunidade, fazendo o leitor viajar por lugares fantásticos, cheios de magia e simbolismo.
Um dos destaques do livro é quando o autor fala sobre os ritos de iniciação dos meninos e das meninas ndebeles. Aliás, estas, mais tarde, transformar-se-ão nas já conhecidas mulheres girafas.
Os créditos da ilustração vão para Catherine Reisser, que explorou muito bem os totens africanos, assim como as pinturas de corpo e a natureza, como o lendário baobá.

FICHA TÉCNICA:

Obra: Ao sul da África
Autor: Laurence Quentin
Ilustradora: Catherine Reisser
Editora: Cia das Letrinhas
Ano: 2008

(Clique sobre a imagem para ampliar.)
   Os prolijianos estiveram, no começo da semana passada (dia 31 de outubro), na Escola Municipal Professora Maria Regina Leal, do bairro Espinheiros (Joinville), promovendo mais um literário lançamento da segunda tiragem do "Livro dos livros". Entre alunos do ensino fundamental, professores e funcionários, cerca de 50 pessoas prestigiaram este evento. Confira as fotos:







E sábado, dia 12, tem mais... Esperamos vocês, às 10h, na Biblioteca Pública Municipal Rolf Colin! 


Por Sonia Regina Reis Pegoretti

O autor Ahmadou Kourouma (1927 – 2003) é africano da Costa do Marfim, cuja trajetória política foi de contestação aos regimes autoritários, ao poder econômico, à colonização francesa e de crítica aos abusos sociais. Recebeu mais de 15 prêmios literários e em 2009 foi vencedor do prêmio de melhor livro informativo pela Fnlij com livro “Homens da África”, que é, com certeza, uma daquelas obras que não se pode deixar de lado.
O livro traz conteúdo histórico sobre a África Ocidental, especialmente sobre o Reino Mali ou Mandinga e revela ao leitor, os mistérios de quatro dos personagens africanos mais emblemáticos: o griô, o príncipe, o caçador e o ferreiro. Apesar de toda a revolução econômica e da vida globalizada que vive os quatro cantos do planeta, esses homens e suas profissões são até hoje muito respeitados e de grande importância sociocultural.
Em cada um dos quatro capítulos, o autor também convida o leitor a dar um passeio pela aldeia e pela vida desses homens de coragem e sabedoria. Outro detalhe importante a ser notado, é a presença da religião islâmica, que se faz presente nas narrações da comunidade, mostrando que o que antes era privilégio dos nobres, agora está difundido pela maioria da população.
Belas ilustrações, mapas, obras de arte, instrumentos de guerra e musicais e grande variedade de fotos também fazem parte dessa obra, materializando assim, o que é apresentado. No fim do livro, um glossário nos ajuda a entender melhor algumas palavras de origem africana trazidas no livro, que também é uma das marcas registradas do autor: misturar francês e os dialetos africanos!
Homens da África” é passaporte certo para o leitor que deseja se familiarizar com a cultura e o modo de vida africana. Boa leitura!

FICHA TÉCNICA:

Obra: Homens da África
Autor: Ahmadou Kourouma
Ilustrador: Giorgio Bacchin
Editora: SM
Ano: 2009
Por Ana Paula Kinas Tavares

Na maciez da capa prevejo a asperidade da leitura. As primeiras palavras me soam confusas e dispersas. É no virar das primeiras folhas que me cubro de preocupações. Paro um instante, fecho o livro, quero a paz da minha vida “real”, mas já não posso me livrar da narrativa. Penso no escritor, aquele sujeito distante que me escreveu tais letras sem me conhecer, e assim mesmo me prende, bate-me, e me tira o ar. Volto à última página lida, releio e prossigo. Meu coração acelera e a história vai se criando com minha leitura. Vejo meus pais, meu namorado, até uma professora da escola primária. Ouço Mozart como plano de fundo do choro do meu irmão caçula. Fico atraída com o cheiro de bolo de fubá, entro na minha casa da infância, deito no colo do meu avô. Ando de bicicleta, caio, cato a ferida dias depois. Durmo na rede, passeio de barco, dirijo um fusca. Preciso decidir entre a estrada da família e a da aventura, peço ajuda. E uma lágrima cai na página 26.
Quero parar, libertar-me da história, das lembranças, reflexões e sonhos. Sinto-me por ora marionete dessas frases unidas. E num golpe de um ponto de interrogação, tomo as rédeas. Agora sou eu quem determina o percurso e o destino, penso eu. As portas se abrem aos montes, nas janelas curiosos e começo a temer meu destino. Leio vagarosamente cada palavra, receosa de mal compreender e acabar caindo numa armadilha gramatical. A mão de minha melhor amiga aparece no começo de um capítulo e o medo vai cessando. Devoro as páginas, dou risadas. Tenho vontade de escrever, como se o livro fosse uma carta e eu precisasse responder. Em voz alta dito ao vento. Pauso meu texto para seguir com minha vida lida.
Em outra pausa, imagino o fim da história. Penso em abrir nas últimas páginas e matar a curiosidade, só então me dou conta de que não há fim. O escritor não sabe que fim dar, os mais sábios sabem que não têm esse poder. Os escritos não estão finalizados, vão se completando quando me tocam, quando eu os leio e os sinto. E como sinto, sinto tanto. As páginas vão passando, o livro chegando ao fim e meu coração aperta. Lágrimas medrosas escorrem pelo meu rosto, embaçam meus olhos e atrasam o fim da leitura. Talvez seja de propósito essa emoção nos instantes finais, não só para que a história se tatue em mim, mas para que se prolongue. Eu mesma não quero que acabe, quero a proteção do toque da capa, a ingênua ideia de que é só ficção e ficará tudo bem.
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Texto produzido para a disciplina "Literatura Infatil e Juvenil" (2° ano de Letras Licenciatura) da professora Sueli Cagneti , a partir da proposta de ensaio do filme "A história sem fim", já resenhado e ensaiado neste blog no link abaixo.
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