Luana Seidel

Com o infortúnio da escravidão, muitos africanos foram brutalmente tirados de sua terra e trazidos para o Brasil. Apesar da diferença de culturas, não podemos negar que a África possui uma cultura belíssima e rica, com detalhes e diversas histórias propagadas por meio da fala, a grande maioria sem nenhum uso da escrita, de avô para pai, de pai para filho e assim por diante. 
E por serem detalhes importantes, Raul Lody traz em sua obra Seis pequenos contos africanos sobre a criação do mundo e do homem o esclarecimento sobre a visão de mundo da cultura africana, das suas crenças, da criação do mundo e dos seus responsáveis. 
Escrito e ilustrado por Lody e publicado pela Editora Pallas em 2007, o autor e ilustrador utiliza – com sucesso – desenhos étnicos, com muitas cores e formas que dão ideias quase ancestrais para aproximar o leitor da temática abordada. 
Entre Ogum, Olodumare e outros grandes, percebemos como é importante que seja explicado de onde veio cada um destes e quais foram seus papeis na criação do mundo, visto que a cultura africana se misturou com a nossa nos tornando um pouco mais malês, iorubas, jejes, mas quando nos perguntamos quem são estes, não sabemos explicar com propriedade.
De um curto trecho, podemos perceber que os homens são muito parecidos uns com os outros e erram quase sempre no mesmo ponto, não importando em que parte do mundo ele vive ou à qual Deus aquele adore: “... O homem, porém, não seguiu rigorosamente as instruções de Ogum: não soube aproveitar a natureza oferecida por Olodumare. O homem preferiu guerrear em vez de plantar, preferiu matar em vez de semear, preferiu formar exércitos em vez de habitar pacificamente a terra.” (p. 13) 
No final do livro, o autor traz um glossário com vinte termos da cultura abordada que serve para tirar a dúvida de quem ainda confunde os diferentes nomes e para explicar mais detalhadamente quem fez o quê, quem é filho de quem e etc. 
A obra é ótima para quem quer ter maior noção sobre a sabedoria das religiões africanas, pode ser lida por diversos públicos, principalmente a partir do juvenil, visto que Lody utiliza a linguagem simples para aproximar o leitor e mostrar as lendas, sem deixar a obra simples ou infantil demais. A sensação pós leitura deste livro é a de que podemos estudar mais e ter ainda mais conhecimento dessa cultura tão bonita e tão importante para o povo brasileiro. 
Até logo, ou melhor: Odàbó!

LODY, Raulo. Seis pequenos contos africanos sobre a criação do mundo e do homem. Rio de Janeiro: Pallas, 2007.



Luana Seidel é graduanda do curso de Letras (Língua Portuguesa e Língua Inglesa) da Univille. Trocou o oxigênio por arte há tempos – e não se arrepende disso.


Nicole Barcelos

No sonho, a liberdade voa com mais asas.
(Bartolomeu Campos de Queirós)

Livro que mais parece sonho, Elefante, obra póstuma de Bartolomeu Campos de Queirós, editada em 2013 pela extinta Cosac Naify, não tem medo de mergulhar (e, quem sabe, se afogar) no mundo do eu e no outro, pelo fio dos mais humanos dos sentimentos.
De lirismo ímpar, essa narrativa guia o leitor para um universo onírico, em que o protagonista (ou melhor, eu-lírico), dentro das linhas do horizonte das paredes de seu quarto, transborda-se ao encontrar uma curiosa criatura: um elefante que cabe na palma de sua mão a adentrar, sem licença, em seu sonho. É pelo encontro com esse outro (que também é eu) que o eu-lírico tem em si despertados sentimentos contraditórios acerca do amor e da liberdade - e que se vê num conflito quase tão profundo quanto a imensidão do ser.
Com imagens poéticas de beleza singela, Elefante é igualmente bem ilustrado por Bruno Novelli (que assina como 9LI), que traz em suas gravuras em laranja e azul uma narrativa à parte, contando ainda mais dessa imersão em si mesmo.
A última obra de Bartolomeu Campos de Queirós a ser publicada é, como tudo aquilo que o autor fez, de poesia e humanidade sem igual.


QUEIRÓS, Bartolomeu Campos de. Elefante. São Paulo: Cosac Naify, 2013, 1. ed.


Nicole Barcelos é graduanda em Letras na Univille (Língua Portuguesa e Língua Inglesa). Atua como bolsista do Prolij desde 2014 e vive se perdendo em buracos de coelho.
Cymara Sell
Nicole Barcelos


Azuis, amarelos e vermelhos também, grandes, pequenos, redondos e até quadrados... Os ovos de Páscoa - símbolos quase universais dessa festividade - são de todas as cores e formas. No entanto, não são apenas os ovinhos que podem adoçar essa data que é marcada por um sentimento tão forte de esperança. Livros de todas as cores e formas também podem nos alimentar, independentemente da cor, forma, ou credo de cada um! Por isso, para essa Páscoa nós reunimos uma pequena seleção de histórias que de alguma maneira conversam com essa tradição!


Advinha quanto eu te amo, de Sam McBratney, ilustrado por Anita Jeram - Graciosamente ilustrada, essa é uma história de pais e filhos (talvez muito similarmente ao imaginário cristão). Em um divertido jogo com ares de competição, Coelhinho e Coelho Pai vem a descobrir que o amor não é assim tão fácil de se medir.

Pacto no bosque, de Gustavo Martin Garzo e Beatriz Martin Vidal - Duas crianças ouvem a mãe contar a história de dois filhotes de coelho perdidos no bosque que se deparam com uma loba prestes a dar cria. Com ilustrações belíssimas que mostram as crianças entrando na fantasia narrada pela mãe, esta é uma história que encanta sobretudo pela mensagem esperançosa da renovação trazida por pequenos gestos de bondade – e pelos filhos. Para todos os lobos e coelhos lerem, tenham ou não filhotes.

O Mistério do Coelho Pensante, de Clarice Lispector: Joãozinho é um coelho que vive preso em uma casinhola. Como tantos outros, franze o nariz para pensar até que um dia, de tanto franzi-lo, acaba tendo uma ideia ótima para fugir e passa a viver uma vida muito melhor. Que ideia foi essa é o grande mistério deste livro cheio de entrelinhas que, segundo Clarice, “só serve para criança que simpatiza com coelho”.

Aura, de Carlos Fuentes: Um jovem historiador lê um anúncio de oferta de emprego cujas exigências parecem descrevê-lo. Necessitando de um trabalho bem remunerado e certo de sua qualificação, dirige-se ao local indicado, uma velha mansão encravada entre prédios modernos onde moram uma velha senhora, sua bela sobrinha Aura e uma coelha chamada Saga. Com a tarefa de organizar e editar as memórias do falecido marido da velha, o jovem envolve-se com as mulheres até compreender, quando já não pode mais fugir, as forças sombrias que o trouxeram até ali. Saga é a chave do mistério que liga a velha à sua sobrinha Aura e o motivo pelo qual esta novela do escritor mexicano consta dessas indicações de Páscoa. Afinal, a simbologia de renascimento que envolve os coelhos é muito anterior à crença cristã na ressurreição, remontando aos cultos mágicos e pagãos à deusa Eostre, de cujo nome originou-se Easter (Páscoa em inglês).

14 Pérolas Judaicas, de Ilan Brenman, ilustrado por Ionit Zilberman: que tal aproveitar a Pessach para conhecer um pouco mais da cultura judaica? Nesta coletânea estão reunidos contos da tradição oral que, segundo o autor, contém humor e a “reafirmação da beleza da vida e sua preservação”, características importantes na identidade e preservação de um povo que desde a libertação do Egito ainda procura a terra prometida. Destaque para o conto “O sábio de Chelm”, sobre o rabino de uma pequena cidade que queria conhecer Varsóvia e acaba perdendo-se (ou encontrando-se?) de um jeito muito inusitado.

Yeshua Absoluto, de Laudo Ferreira, com arte-final de Omar Viñole: para recontar a vida de Jesus numa perspectiva mais humana e menos divina, o autor utilizou como elemento de pesquisa tanto evangelhos canônicos quanto apócrifos, com destaque para o de Maria Madalena. Respeitando profundamente a importância dos preceitos éticos estabelecidos pelo jovem nazareno, a história aborda a importância de Madalena como confidente, discípula e par intelectual de Jesus.



Cymara Sell atua como bolsista no Prolij desde 2016. É graduanda em Letras na Univille (Língua Portuguesa e Língua Inglesa) e lê para lembrar que é gente.

Nicole Barcelos é graduanda em Letras na Univille (Língua Portuguesa e Língua Inglesa). Atua como bolsista do Prolij desde 2014 e vive se perdendo em buracos de coelho.
Tecnologia do Blogger.