Kauane Cambruzzi

A Lagartixa Verde é uma história doce e é certo que o leitor há de sorrir a cada página virada. O livro conta a história dos irmãos Alice e João, que em um domingo de chuva não podem passear e por isso se dedicam a desenhar. A mãe os avisa, no entanto, que os desenhos devem ser feitos apenas no papel! Mas desenhar no papel perde a graça depois de um tempo... Ainda mais quando se pode desenhar no pé da irmã mais nova, por exemplo. 
Com a caneta verde do pai João desenha no pé de Alice uma lagartixa e a pequena ri tanto que a mãe quase descobre a peripécia. No dia seguinte vem a surpresa: a lagartixa tinha mudado de lugar! 
Mesmo sendo uma obra voltada para o público infantil, é impossível que não agrade gente de todas as idades. Todos merecem sorrisos por motivos singelos e o autor encanta a história para provocar sorrisos – sem escolher a idade. 
A cumplicidade dos irmãos, seja fazendo arte ou tentando escondê-la é contada por João Paulo Vaz e ilustrada por Claúdio Vaz e Giovana Vaz; o livro, publicado pela editora EGBA, foi vencedor do Prêmio Nacional de Literatura infanto-juvenil em 2005. 

VAZ, João Paulo. A Largartixa Verde. Salvador: Secretaria da Cultura e Turismo, Fundação Cultural do Estado, Empresa Gráfica da Bahia. 


Kauane Cambruzzi é graduanda em Letras (Língua Portuguesa e Língua Inglesa) na Univille. Tem os cabelos cacheados e sabe que deve agradecer à bisavó por eles, assim como deve agradecer ao pai por lhe comprar livros e à mãe por lê-los, trazendo a literatura para sua vida.
Luana Seidel

Desde que começamos a ter noção básica de humanidade, nos é ensinado que há mais de quinhentos anos, quando o Brasil nem era Brasil ainda, milhares (e milhões) de africanos foram tirados de seus lares para serem escravizados aqui. E que esta foi uma fase horrível, abominável, brutal e desumana, e que então devemos esquecê-la... Será? 
Marilda Castanha parece discordar desta idéia. Na obra “Agbalá: um lugar-continente”, publicada pela Formato Editorial em 2001, a autora relembra e detalha o sofrimento dos africanos escravizados a troco de mercadorias como cachaça, pregos, espingardas e armas. Sim, seres humanos trocados por mercadoria. 
Castanha, que também ilustra o livro, começa cada seção com um título que remete à transição de fases, como “da senzala ao campo” “da escravidão à resistência” e para falar dos deuses “de orixá a orixá"; e ilustra estes deuses, cheios de vida e de cores para nos fazer imaginar os rituais à eles “oferendados”.
É com peso no coração que os que lêem imaginam o sofrimento destes seres humanos arrancados de seus lares, brutalmente jogados em navios para tentar agüentar a fome, o clima e os maus tratos, para que os que sobrevivessem terem seus nomes retirados e trocados por “nomes aceitáveis” para a cultura católica, sua religião e cultos religiosos expressamente proibidos e sua liberdade arrancada. 
Mas, felizmente, a essência alegre e colorida africana não se deixou apagar. Driblavam a repressão dos “sinhôs” disfarçando a sua cultura rica em traços de cada um. 
 Nas últimas páginas, Castanha faz breves adendos acerca de assuntos históricos, culturais e de curiosidades relacionados à cultura africana. 
 A obra é carregada de detalhes, mas não se torna maçante; pode ser lida por diversas idades, por todos que têm interesse em saber mais sobre esta fase lamentável que faz parte do passado do Brasil, mas que deixou o legado da força da resistência do povo africano e que merece, sim, ser relembrada. 

CASTANHA, Marilda. Agbalá: um lugar-continente. Belo Horizonte: Formato Editora, 2011. 


Luana Seidel é graduanda do curso de Letras da Univille. Trocou o oxigênio por arte há tempos – e não se arrepende disso.
Gabrielly Pazetto
Nicole Barcelos

Será que para ser lobo tem que ser mau? Seria esse um requisito para um lobo se candidatar a um emprego em uma história infantil? É certo que por muito tempo essa foi uma característica marcante dessa fera de dentes afiados e astúcia no olhar, principalmente nos contos de fadas e fábulas que habitam nosso imaginário, mas não tem que ser sempre assim. Pelo menos, é isso que mostram os livros que selecionamos nesse mês, em que o lobo nem sempre é mau ou o vilão da história!

Quando o Lobo tem Fome, de Christine Naumann-Villemin com ilustrações de Kris Di Giacomo – Edmundo Bigfuça, o lobo mau desta história, é bem persistente. Na busca por devorar Max Omatose, o coelho anão, vai até seu prédio e tenta diversas abordagens para comê-lo, mas nenhuma dá certo. No final, decide virar vegetariano mesmo, muda-se para o prédio do coelho, apaixona-se por outra loba e vira presidente da Associação da Boa Vizinhança. Esta história acompanha a mudança do lobo, de mau para bonzinho e nos mostra uma faceta mais sociável deste temido vilão.

De Repente, de Colin McNaughton – O Inglês Colin McNaughton escreveu uma série de livros chamada A Preston Pig Toddler Book, que conta a história do porquinho Preston e como ele sempre consegue escapar do lobo mau. De Repente é um destes livros e narra divertidas façanhas de Preston, que, mesmo sem querer, sempre acaba despistando o lobo. Aqui, o peludo vilão se mostra bastante desastrado e rende momentos engraçados ao leitor. 

Opa!, de Colin McNaughton – Da mesma série de livros comentada anteriormente, Opa! acompanha o porquinho Preston na sua jornada para levar uma cesta de doces para sua vovozinha. Chegando na casa dela, entretanto, o porco é surpreendido pelo lobo que resolve devorar ele e sua vovó. Porém, eles são salvos pelo pai de Preston, que chega para cortar lenhas. Nesta divertida história, McNaughton brinca com Chapeuzinho Vermelho e Os Três Porquinhos e mostra um lobo de muita má índole, prestes a devorar vovozinha e neto, mas, assim como no livro anterior, vê-se mal-sucedido. 

Cuidado Com o Menino, de Tony Blundell – Os lobos são sempre vistos como criaturas astutas e sagazes, mas não é o que acontece nesta narrativa. Em Cuidado Com o Menino, o lobo mau captura um menino que anda na floresta e decide comê-lo, mas o garoto percebe os planos do lobo e o aconselha a não comê-lo cru, passando-lhe uma receita altamente elaborada que irá torna-lo, em tese, muito mais saboroso. Porém, nesta tentativa de buscar ingredientes para cozinhar o menino, o lobo se cansa e o pequeno garoto consegue escapar. Blundell mostra um lobo nada esperto e sagaz, capaz de se deixar enganar. E ao contrário da Chapeuzinho Vermelho de Perrault e dos Três Porquinhos de Joseph Jacobs, este menino se recusa a virar uma vítima do lobo. 

A Verdadeira História dos Três Porquinhos, de Jon Scieszka – Quando o lobo mau decide contar sua versão de uma história tão clássica quanto a d’Os Três Porquinhos, você deveria parar para ler. Segundo ele, nunca foi sua intenção devorar os porquinhos, ele só teve o azar de estar com um resfriado e, toda vez que espirrava, acabava destruindo a casa de um porquinho. Em A Verdadeira História dos Três Porquinhos, Jon Scieszka narra um grande clássico da literatura infantil sob um outro ponto de vista: a do vilão da história. 

O mais malandro, de Mario Ramos – Tudo começa quando o Lobo avista Chapeuzinho Vermelho indo pela floresta à casa de sua vovozinha. Com planos de fazer um bom jantar, a fera engana a garota e busca chegar antes dela ao seu destino. Porém, enganado mesmo está quem pensa que o fim dessa história envolve um caçador abrindo-lhe a barriga e retirando de lá neta e avó. Em O mais malandro, nada dá certo para esse Lobo desajeitado, a começar por seu disfarce, até àquela que irá ajuda-lo a sair dessa enrascada. 

Procura-se lobo, de Ana Maria Machado com ilustrações de Laurent Cardon – Esta é a história de Manuel, que era Lobo mas não era lobo. Ora, Manuel Lobo era homem e não fera, e estava apenas procurando um emprego quando leu num anúncio que precisavam de lobos em uma empresa local. Lobo acabou se candidatando, sob a crença que não havia chances de que tais animais lessem jornal. Apesar de não ser bem o que os empregadores buscavam, ele escrevia muito bem, gostava de ler e conhecia muitas histórias, então foi contratado para ser “respondedor de cartas de lobos”. Manuel Lobo, assim, acaba encontrando muitas das feras vivas em nosso imaginário, de Chapeuzinho Vermelho, aos Três Porquinhos e os Sete Cabritinhos, além de um lobo que virou bolo por causa de uma menina de Chapeuzinho Amarelo, e faz pensar sobre o lobo e o homem, vivos na figura desse animal desde as primeiras fábulas de nossa história. 

Um lobo instruído, de Becky Bloom e Pascal Biet – Quando o Lobo chega a uma fazenda qualquer, em uma cidade pela qual passava, pretende apenas saciar sua fome e seguir seu caminho. No entanto, ao encontrar os animais lendo, sem dar a mínima para a suposta ameaça que um predador representava, ele resolve descobrir o que há de tão especial nos livros e na leitura. Em tal percurso, porém, esse Lobo irá acabar esquecendo da sua fome física – e descobrir uma outra fome em seu interior.



Gabrielly Pazetto é graduanda em Letras (Língua Portuguesa e Inglesa) pela Univille e técnica em Informática. Atua como bolsista no Prolij e faz dos livros que lê barcos de viagens inesquecíveis.

Nicole Barcelos é graduanda em Letras na Univille (Língua Portuguesa e Língua Inglesa). Atua como bolsista do Prolij desde 2014 e vive se perdendo em buracos de coelho.
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